O Banquinho dos Trouxas
Essa é uma obra de ficção. Qualquer semelhança com fatos reais é mera coincidência. Quando eu era criança, os ônibus que circulavam pela Grande BH tinham uma tarifação diferenciada por fichas. Eram grandes, de plástico duro, e vinham em três cores — acho que amarela, azul e vermelha. Não lembro bem como funcionava, mas era por distância: de Beagá a Contagem era uma cor, até Betim era outra; para o outro lado, de Belo Horizonte a Santa Luzia, uma cor; de BH a Sabará, outra. Mudando de assunto… Os ônibus tinham um assento solitário logo atrás da porta da frente. Minha mãe chamava aquele assento de “o banquinho dos trouxas”. Segundo ela, em caso de batida frontal, o motorista jogaria o ônibus para o lado do banquinho — e o trouxa é que sofreria as consequências. Pois bem, havia um motorista que chegava cedo ao ponto final do meu bairro. Ele tinha a estranha mania de conversar sozinho. Um solilóquio tão convincente que me dava arrepios: gesticulava, olhava para um lado específico, como se ...