Bichos Soltos
Desde sempre convivo com
animais em casa, não me lembro de um período em que estive sem ter por perto um
bichinho qualquer, um peixinho num aquário que fosse... Aliás, nem sei qual foi
meu primeiro amigo de estimação. Cachorro, gato, pato, mico, tartaruga, coelho,
camundongo, aves então, foram varias de vários tipos. Certa vez, meu irmão nos
construiu um viveiro e tínhamos passarinhos variados naquele lugar. No entanto,
descobrimos que não gostamos de prisões, não nos damos bem com bichos
confinados, presos, enjaulados. Aquele viveiro não podia dar certo. Os
passarinhos foram sendo soltos por nós sob a alegação de que estavam fugindo.
Bom mesmo é ter em casa cachorros, gatos, tartarugas, essas criações que vivem
soltas pelo quintal tendo por limites o nosso próprio limite, isto é, o muro do
vizinho, isso quando não se decide pela guarda compartilhada com a vizinha como
foi com o meu miquinho. Lembro-me com saudades do Nik de Mello Siuves, nome que
minha irmã Helena deu ao miquinho que veio parar no meu ombro no dia da posse
do presidente Collor, por isso o Mello no nome. Os problemas de ter bichinhos
soltos são aquelas pessoas que não sabem lidar com essa vida compartilhada.
Explico. Tivemos alguns pintinhos, daqueles amarelinhos, que a gente trocava
por garrafas. Entregávamos algumas garrafas e recebíamos em troca alguns
pintinhos. Quem viveu em Belo Horizonte nos idos de 70's ou 80's sabe do que
estou falando. Pois bem, viviam piando soltos atrás de nós procurando algo para
bicar e engolir, nossa tarefa era evitar que morressem com o papo estourado por
tanta comida. Mas, tios e tias que nos visitavam, acabavam pisando em alguns
(lembram da Minsk, de Graciliano Ramos?). Pois é, aí tinha choradeira,
velório, enterro com direito a velas e tudo mais. Todos os nossos bichinhos
eram enterrados com honras familiares. Minha irmã teve um cachorro sem raça
definida, que antigamente eram os cachorros "vira-latas", chamado
Shao Lin. Ele morreu envenenado por algum vizinho que se divertia matando os
cães do bairro. Meu primo e eu choramos em cima da laje da nossa casa e
compomos uma canção em homenagem ao Shao Lin. Nada que justifique cantar aquilo
hoje em dia. Acho que passei isso para meus filhos, eles adoram seus bichinhos
e choram nas despedidas fúnebres. Minha mãe não gosta de bichos de estimação, segundo
ela, toda vez que se apega a um bicho, ele morre. Mas, li em algum lugar que
eles vivem o suficiente para nos ensinar o sentido real da palavra amor, do que é se doar para o outro,
sem reservas. Quem tem gatos sabe o que é ser amado por alguém desprendido,
quem tem ao menos um cachorro entende o que é amor fiel, qualquer dono de
passarinhos entende o significado de amar em troca de proteção. O ruim dessa
história é que não se consegue criar um bicho qualquer para comer, nunca
criamos porcos, nem galinhas para o abate. O Nelinho (homenagem ao atacante do
Atlético Mineiro), nosso galo carijó da safra dos pintinhos trocados por
garrafas, foi parar na panela, uma triste refeição que ninguém comeu...
Comentários
Postar um comentário