PREFÁCIO PARA O LIVRO “OS INSEPARÁVEIS”


PREFÁCIO PARA O LIVRO “OS INSEPARÁVEIS

  

“A música é realmente uma coisa mágica, 

contagia com sua forma universal.” 

(Norberto Corradi). 

  

A história realiza uma linha definitiva no tempo e o tempo... Aaah; o tempo! Surge a necessidade de inserir a música nesse contexto criacional. Nada do que existe no universo conhecido ou desconhecido, se fez sem música. E é sobre isso que o livro Os Inseparáveis, de Norberto Corradi, trata; a criação de uma família. Pessoas diferentes, oriundas de locais distintos, reunidas e transformadas em uma família inseparável. Apesar de haver transcorrido vários anos, e a narrativa nos coloca íntimos dos fatos transcorridos no período, os rapazes permaneceram ligados por essa coisa mágica citada pelo autor. 

  

Nessa narrativa, um bando de rapazes decide fazer música e encontram sintonia que atravessa décadas, vivenciam histórias de casamentos, de formaturas, e de outros motivos para se contratar um conjunto musical. O tempo transcorre linear no relato de Corradi e expõe as alegrias da formação, a apreensão dos desígnios da história e das tristezas que vivenciaram juntos. Sabedor da força que um evento triste tem de unir as pessoas fazendo com que a empatia seja lentamente lapidada e transmitida para o sentimento de um só coração que bate em vários peitos, ao mesmo tempo, pois sou oriundo de conjuntos musicais que passaram bons e maus momentos, sei bem do que a convivência regada a acordes musicais é capaz de fazer. Por mais dissonante que seja o momento, o toque surdo do coração pode fazer comutar a reunião de amigos em união familiar. 

  

Minas Gerais é um celeiro próspero quando se trata de grupos musicais, bandas de música, cantores... Músicos de variados estilos surgem entre as montanhas mineiras e tornam-se sucesso no cenário nacional e internacional para que todos saibam que a música aqui é levada a sério sendo um legado de família, consanguíneo ou não. O autor revela que sua influência musical é proveniente de parentes próximos e esses pertenciam a bandas de cidades do interior testemunhando a estreita ligação com a herança musical mineira. Dessa tradição nascem músicos impregnados dessa tendência natural à desejar os palcos, os bailes da vida, e muitas dessas crianças crescem para colocar “o pé na profissão de tocar um instrumento e de cantar”, em sintonia com a música “Nos Bailes da Vida”, de Milton Nascimento. O músico escritor revela essa tradição em sua vida escrevendo assim: “Acho que eu tinha a música nas veias. Meu tio Hermínio era maestro da banda de Itaúna e eu sempre ia “em” sua casa para assistir aos ensaios da banda” (CORRADI, – p. 18). As bandinhas, ainda hoje, fazem apresentações nas praças, pelas ruas das cidades e fazem brilhar olhos de pessoas de todas as idades. Quanta gente sente o coração arder quando soam as primeiras notas dos instrumentos de sopro e percussão em algum canto remetendo o pensamento imediatamente aos dias vividos numa cidade do interior onde essa tradição ainda é forte? As bandas despontam também na capital mineira em pleno século XXI mostrando a força desse símbolo cultural por meio do qual surgem músicos que permanecem ligados à Minas pelo resto de suas vidas como que por um cordão umbilical impartível, e que não se corrompe com o passar dos tempos, revelando novamente a ação dessa coisa mágica chamada “música” citada pelo autor.

 

Em meio à década de 1960, Corradi conhece a banda que o influenciaria e seria o stardust daqueles meninos que viriam a se descobrir inseparáveis decorridos mais de cinco décadas, a família musical reunida num sonho romântico de sucesso nos palcos iluminados por luzes coloridas e fumaça artificial. Tarcísio e seu Conjunto, o primórdio da história que dá sequência aos acontecimentos nas vidas dos personagens contidos nesse livro que conta os altos e baixos que um grupo de músicos sofre ao longo de suas carreiras. Mesmo que não tivessem alcançado sucesso, ainda assim teriam muitas histórias divertidas para encher uma obra literária. “Fizemos uma reunião para mudar o nome do conjunto que passou a se chamar Os inseparáveis, nome bem apropriado em razão daquela parceria fraternal que havíamos nos tornado”.

 

Os Inseparáveis é um livro que consegue transmitir o processo de formação demonstrando o sonho de uma classe artística inteira e suas consequências na caminhada de subir e descer dos palcos, entrar e sair dos shows,  de ter e não ter um empresário por conta da banda e que faça parte da família. O livro deixa de ser uma simples  biografia para espelhar a relevante significação testemunhal de uma vida inteira dedicada à paixão pela música. Um sentimento tão intenso que foi capaz de transformar o comportamento de cada componente, os pensamentos e banhar a todos com o entusiasmo de viver a alegria que é tocar para um público que aclama em coro pelo grupo, como o relatado baile em Ouro Preto, ou os apertos vividos em Santo Antônio do Monte, e até mesmo a expectativa de estar na tv, com a cabeça no mundo da lua.

 

Enfim, uma oportunidade de transmitir, por meio da escrita, um repertório de princípios e valores que serão transmitidas de geração em geração, valores familiares e musicais desvelados com talento na história de um homem que ousou viver seu sonho, despertando todo o seu potencial de criar música, de viver música, essa coisa mágica que contagia com sua forma universal.

 


Baile das Misses em Santo Antônio do Monte em 1968


Texto publicado originalmente no Blog do Toni Ramos
https://toni.game.blog/2020/06/18/os-inseparaveis/

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