Parabém Da Flora Universal

*Dedico essa crônica ao meu genro, sobrinho e afilhado de casamento que, no momento da festa surpresa dele (30 de agosto), suscitou essa excelente curiosidade. Valeu, Leonardo de Oliveira Felisberto!


Festa surpresa é e sempre será a surpresa da pessoa que é surpreendida, ao chegar em sua casa, com um número diferente de pessoas das quais na verdade deveriam estar ali. A esposa resolve surpreender o marido com uma festinha surpresa de aniversário, ele, claro, fará de bom anfitrião e, se não ficar surpreso, vai fazer caras e bocas de estupefação:

– Òòò, meus amigos! Não precisavam incomodarem-se. Muito obrigado.

É claro que, no íntimo algo estará passando, como um rio indiferente à vontade alheia… “Claro que eu pensei em descansar e vocês estão avacalhando meu esquema”, e se for alguém apaixonado por futebol e for dia de jogo? “Putz!! Logo hoje? Tomara que não demorem pra ir embora…” e segue o baile. Os convidados cantam o Parabéns e correm para o refrigerante e para os salgados, Bate-papo descontraído, evitando a política (de bom tom evitar hoje em dia), e, horas depois, vamos ao bolo cantar novamente, o tradicional “Parabéns pra Você”.

Dessa vez, o aniversariante inventa de perguntar porque “parabéns” no plural… e, como não poderia ser diferente, o cara formado em letras tem que explicar. Curiosamente, fiz aniversario recentemente e ainda me lembro das pesquisas para escrever uma crônica para o Clarim Brasil. No fim, nada a ver com o assunto gramatical; mas dessa vez, vamos à gramática. Melhor ainda; vamos ao início dessa crônica.

A esposa resolve surpreender o marido com uma festinha surpresa de aniversário, ele, claro, fará de bom anfitrião evitando a sonolência de Dom Casmurro com seu colega de viagem que acabou recitando-lhe versos provocando por cansaço, que fechasse os olhos algumas vezes. Por causa dessa desventurada viagem, o vizinho passou-lhe a chamar Dom Casmurro. É por causa da receptividade não tão efusiva, o aniversariante pode acabar recebendo alcunhas pejorativas.

Nesse livro, Machado de Assis coloca uma frase intrigante para os falantes do português brasileiro, uma palavra em desuso: “O alvoroço da primeira hora é melhor, esse estado da alma que vê na inclinação do arbusto, tocado do vento, um parabém da flora universal, traz sensações mais íntimas e finas que qualquer outro”. Assim está escrito e não há nada de errado com a forma singular dos nossos parabéns tão corriqueiros.

Há palavras que são grafadas no singular corretamente e que não são usuais no nosso dia a dia: PARABÉM – PÊSAME – ÓCULO – NÚPCIA – FÉRIA … Hoje em dia, não usamos mais essas formas no singular. De algumas, nem lembramos mais como eram sem ser no plural.

Alguém sabe, com certeza e sem consulta, qual é o singular de ANAIS? Aquelas publicações periódicas de ciências, artes ou letras…

Uma mais fácil: Víveres. Sabe qual é o singular de VÍVERES?

O PARABÉM é sinônimo de congratulação; cumprimento; felicitação, é um voto de êxito e sucesso. Assim mesmo, singularmente. Sui generis, a origem da palavra “parabém” deriva da junção de “para” e da palavra “bem”, que quer dizer, uma interjeição que expressa o desejo de que tudo vá bem à pessoa parabenizada, “para o bem” de alguém. Simples assim (risos). Nada de ficar casmurro quando alguém disser que seu parabém esse ano foi divertido, e que sua cara de surpresa foi a melhor. Ainda que seja teatral…

Publicado originalmente no Jornal Clarín Brasil JCB News, Brasil, em 05/09/2021

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