Desvendando "Helena": A Fascinante História por Trás da Canção de Janires

Olá, amigos!

Hoje, convidamos vocês para uma viagem no tempo e na música, explorando uma canção especial de Janires: "Helena". É uma música que guarda uma história rica e complexa, ligada a uma figura notável da cultura brasileira.

Para entrarmos no clima, que tal ouvirmos a música primeiro? Dê o play abaixo:

Depois de ouvir, convidamos você a mergulhar conosco em nossa análise sobre essa canção e a vida que a inspirou.

Janires, a Canção "Helena" e a Figura de Helena Brandão

Por Paulo Siuves

Nós, que amamos a música brasileira em suas múltiplas facetas, sabemos como ela frequentemente se debruça sobre personalidades e narrativas que capturam nosso imaginário coletivo. No universo do rock cristão brasileiro que emergiu nas décadas de 1970 e 1980, percebemos que o cantor e compositor Janires Magalhães Manso se destacou como uma figura essencial. Ele foi o fundador de grupos que se tornaram ícones para nós, como Rebanhão, lá em 1977, e depois a Banda Azul, em 1986. Vemos Janires como um pioneiro, alguém que introduziu novas sonoridades e abordagens líricas no contexto da música religiosa. Seu estilo, para nós, era marcado pela fusão do rock com ritmos brasileiros e letras que se afastavam da formalidade dos hinos tradicionais. Muitas vezes, notamos que ele adotava um tom informal, cotidiano e, por vezes, até provocador.   

Dentro da obra de Janires, a canção que ele intitulou "Helena" surge como um tributo a uma figura específica. É o que apontam os estudos sobre sua produção musical que nós consultamos. A identidade dessa "Helena Brandão", que é homenageada na música e mencionada na pergunta que nos move a esta análise, revela-se um ponto crucial para a nossa compreensão da obra. Nossas pesquisas indicam, de forma consistente, que a figura em questão é a renomada atriz brasileira Darlene Glória, cujo nome de batismo descobrimos ser Helena Maria Glória Vianna. Após uma notável carreira no cinema e na televisão, Darlene Glória vivenciou uma profunda transformação religiosa, convertendo-se ao protestantismo e adotando, em seu ministério pastoral, o nome de "Pastora Helena Brandão". Para nós, essa conexão é fundamental, pois a escolha de Janires por homenageá-la sob o nome "Helena" – uma referência direta a "Helena Brandão" – não nos parece aleatória. Pelo contrário, ela nos sugere um foco deliberado na persona transformada da atriz, um tema que tem considerável ressonância para nós, tanto para o público quanto para o contexto da música gospel. A homenagem, em si, pode ser interpretada como um ato de reconhecimento e validação dessa metamorfose espiritual dentro da comunidade evangélica.

A trajetória de Darlene Glória, que conhecemos por um estrelato que incluiu papéis em filmes marcantes e, por vezes, controversos, como os do ciclo da pornochanchada, seguida por uma conversão religiosa pública e fervorosa, confere à homenagem de Janires uma camada adicional de complexidade e significado para nós. Neste espaço, nos propomos a investigar as possíveis conexões entre a canção "Helena" e as obras artísticas de Darlene Glória, explorando como sua vida e carreira podem ter servido de inspiração para a composição de Janires, mesmo diante da ausência da letra da música nos materiais que consultamos. Nossa análise buscará, portanto, contextualizar a homenagem e desvendar as camadas de significado que permeiam esta intersecção entre música, cinema, fé e transformação pessoal no cenário cultural brasileiro.

Darlene Glória: Do Brilho dos Filmes à Luz da Fé (Análise de sua Trajetória)

Para compreender a profundidade da homenagem de Janires em sua canção "Helena", é imprescindível delinear a multifacetada trajetória de Helena Maria Glória Vianna, nascida em 20 de março de 1943, e consagrada no cenário artístico brasileiro como Darlene Glória.3 Sua carreira, particularmente proeminente nas décadas de 1960 e 1970, foi marcada por atuações memoráveis tanto no cinema quanto na televisão, construindo uma imagem pública complexa que transitaria do estrelato secular à fervorosa vivência religiosa.4

No cinema, Darlene Glória participou de produções que se tornaram marcos na cinematografia nacional. Filmes como Terra em Transe (1967), onde interpretou a "Mulher da Orgia", Eu Transo, Ela Transa (1972), e o icônico Toda Nudez Será Castigada (1973), no qual deu vida à personagem Geni, são exemplos de sua versatilidade e da ousadia de seus papéis.4 Algumas dessas produções foram associadas ao gênero da pornochanchada, um ciclo cinematográfico que explorava a comédia com forte apelo erótico, popular no Brasil durante os anos 1970.4 Sua presença na televisão também foi notável, com participações em telenovelas como Véu de Noiva (1969) e O Bofe (1972), consolidando seu status como uma das atrizes de destaque de sua geração.4

O ponto de inflexão em sua vida ocorreu por volta de 1974, um período que ela mesma descreveu como o "auge da fama".8 Foi nesse momento que Darlene Glória converteu-se à fé evangélica, uma decisão que reconfiguraria radicalmente sua imagem pública e seus propósitos de vida.5 Esta conversão é descrita como um dos "primeiros casos emblemáticos de ‘transformação’ de uma artista ‘de fora para dentro’" no cenário brasileiro dos anos 1970.7 Como parte dessa nova identidade, ela adotou o nome de "Pastora Helena Brandão" para seu ministério religioso, um nome que Janires ecoaria em sua canção.3

A transformação de Darlene Glória não se limitou à esfera privada. Ela tornou-se uma figura pública também no meio religioso, compartilhando sua experiência através de testemunhos publicados. Entre eles, destacam-se os livros Minha vida com os espíritos (1982) e Uma nova glória (1997), além do LP O testemunho (1983).7 Essas obras não apenas narram sua jornada pessoal, mas também serviam como ferramentas de evangelização e consolidação de sua nova identidade perante um público mais amplo. Sua proeminência no cenário evangélico também se manifestou em participações em debates públicos, como o ocorrido no programa de Silvia Poppovic nos anos 1990, onde defendeu a fé evangélica ao lado de figuras como Edir Macedo e Silas Malafaia.10



A trajetória de Darlene Glória, de "mito cinematográfico" e "sex symbol" para "Pastora Helena Brandão", encapsula uma narrativa de redenção e transformação que ressoava (e ainda ressoa) poderosamente no imaginário popular, e de forma particular, no meio evangélico. Sua fama anterior estava frequentemente atrelada a uma imagem de transgressão e sexualidade explícita, como sugerem os títulos e papéis em filmes como Terra em Transe e, notadamente, Toda Nudez Será Castigada. A conversão e a adoção de um novo nome e de um papel pastoral representaram, assim, uma ruptura dramática e publicamente visível com esse passado. Janires, ao homenageá-la, celebrava essa ruptura e a nova identidade, mas a força dessa homenagem reside precisamente no contraste com o passado amplamente conhecido da atriz. A publicação de múltiplos testemunhos por Darlene Glória indica um esforço consciente de construir e disseminar sua narrativa de conversão, tornando-a uma figura pública também dentro do cenário religioso, cujos atos performáticos solidificavam sua nova identidade e serviam de exemplo. Essa dualidade e os ricos contrastes de sua biografia – fama versus fé, o "mundo" versus a igreja, Darlene versus Helena – constituíam um material fértil para a exploração lírica de Janires.


A tabela abaixo apresenta uma seleção de trabalhos artísticos notáveis de Darlene Glória, fornecendo um panorama de sua carreira, que serve de pano de fundo para a homenagem musical de Janires.

Tabela 1: Filmografia Selecionada e Trabalhos Artísticos Notáveis de Darlene Glória (Helena Maria Glória Vianna)

 

Ano

Título da Obra

Tipo

Papel (se conhecido)

Observações

Fonte Principal

1967

Terra em Transe

Filme

Mulher da Orgia

Marco do Cinema Novo; papel sugestivo de transgressão.

4

1969

Véu de Noiva

TV

Leda Dary Reis

Participação em telenovela de grande repercussão.

4

1972

Eu Transo, Ela Transa

Filme

Gilda

Título e temática alinhados com o cinema de exploração da época, associado à pornochanchada.

4

1972

O Bofe

TV

Darlene

Participação em telenovela.

4

1973

Toda Nudez Será Castigada

Filme

Geni

Papel icônico; filme premiado e controverso, cujo título ressoa com temas de moralidade e punição.

4

1974

O Marginal

Filme

 

 

6

1974

Um Homem Célebre

Filme

Marcela

 

4

1982

Minha vida com os espíritos

Livro

Autora

Testemunho de sua conversão e experiências espirituais.

7

1983

O testemunho

LP

Intérprete/Narradora

Álbum com seu testemunho de conversão e louvores.

7

1997

Uma nova glória

Livro

Autora

Segundo livro de testemunho, consolidando sua narrativa de transformação.

7

O Que a Canção "Helena" Nos Conta? Nossa Análise da Música de Janires

Para nós, a análise da canção "Helena", de Janires, como um tributo a Darlene Glória/Helena Brandão, requer uma imersão tanto nas características estilísticas do compositor quanto no efervescente contexto cultural e religioso em que a música foi concebida. É fundamental, para nós, esclarecer uma limitação importante: os materiais de pesquisa que nós consultamos, embora confirmem a natureza da homenagem, não contêm a letra completa da canção "Helena". Documentos como os do Cifra Club indicam que a letra é publicamente acessível, mas sua ausência nos dados que temos impede uma análise textual direta e a identificação de citações específicas a obras da homenageada. Desta forma, nossa presente análise se concentrará em inferências baseadas no estilo lírico conhecido de Janires e no propósito da homenagem.   

O estilo lírico de Janires Magalhães Manso era notadamente inovador para o cenário da música cristã de sua época, como nós percebemos. Uma análise de sua canção "Casinha", por exemplo, nos revela uma abordagem narrativa que utiliza múltiplas perspectivas para descortinar verdades mais profundas e, por vezes, sombrias, ocultas sob aparências superficiais. Em "Casinha", Janires descreve uma cidade do interior sob dois olhares distintos: um inicial, que foca em aspectos idílicos, e um subsequente, que revela as mazelas sociais e dramas pessoais dos habitantes. Essa habilidade em apresentar uma cena ou personagem sob diferentes ângulos, expondo tanto a superfície quanto as realidades subjacentes, sugere para nós que um tratamento similar pode ter sido empregado na canção "Helena" para retratar a complexa trajetória de Darlene Glória. É improvável, em nossa opinião, que a homenagem se limitasse a uma hagiografia simplista; ao contrário, ela poderia reconhecer as nuances e contradições da vida da atriz para, assim, ressaltar a magnitude de sua transformação espiritual.   

Janires também se destacou por incorporar ritmos populares brasileiros e uma linguagem informal em suas composições, distanciando-se dos hinos tradicionais e, por vezes, adotando um tom que nós poderíamos considerar "provocante". Essa abordagem conferia à sua música uma autenticidade e uma capacidade de diálogo com as inquietações de sua geração, algo que nós valorizamos.   

O contexto da música gospel brasileira nos anos 1980, período de atividade intensa de Janires, era de efervescência e expansão, em nossa percepção. Juntamente com o Rebanhão, ele foi um dos pioneiros do chamado "rock gospel" no Brasil, surgindo em um momento de significativo crescimento do evangelicalismo e de uma busca por novas formas de expressão musical religiosa que comunicassem a fé de maneira relevante para a juventude. A música, nesse contexto, transcendia o mero entretenimento para nós, funcionando como uma poderosa ferramenta de evangelização, testemunho e construção de identidade para a comunidade evangélica. A canção "Helena", portanto, pode ser vista por nós como um exemplo da maturidade artística que emergia nesse cenário, capaz de abordar figuras complexas como Darlene Glória com nuances líricas e profundidade temática, mesmo que a análise detalhada dessas nuances dependa do nosso acesso direto à sua letra.


Conectando os Pontos: Obras e a Vida de Darlene como Chaves para Entender "Helena"

A premissa de que a canção "Helena" de Janires conteria citações de "várias obras" em que Helena Brandão (Darlene Glória) teve participação impulsiona uma investigação sobre como a vida e a carreira da atriz poderiam ter sido tecidas na letra da música. Conforme já estabelecido, a ausência da letra nos documentos consultados impede uma verificação direta dessas citações. No entanto, com base na rica biografia de Darlene Glória, no estilo lírico característico de Janires e no propósito da homenagem, é possível formular hipóteses consistentes sobre as referências temáticas e simbólicas que a canção poderia evocar.

Uma das mais potentes referências temáticas que Janires poderia explorar é o conceito da "nudez castigada". O filme Toda Nudez Será Castigada (1973) não é apenas um título marcante na filmografia de Darlene Glória, mas também um significante cultural carregado de implicações morais e existenciais.4 Artigos que analisam testemunhos de artistas evangélicos, incluindo o de Darlene Glória, apontam para a frequência com que questões de sexualidade, exposição corporal e os "vícios do corpo" são centrais na auto-condenação de seus passados artísticos.7 Darlene Glória é citada como um caso emblemático, e a obra Toda Nudez Será Castigada é mencionada em conexão com sua trajetória de fama e subsequente crise espiritual, marcada por álcool e drogas, antes da conversão.7 Janires, com sua propensão a explorar contrastes e verdades subjacentes, poderia ter aludido a essa "nudez" – seja ela física ou metafórica, representando a exposição e as transgressões do passado – e ao "castigo" subsequente, interpretado como o sofrimento e o vazio existencial que precederam a redenção pela fé.

A própria transição de "Darlene" para "Helena" é um tema narrativo poderoso. A canção poderia, metaforicamente, usar "obras" ou aspectos da carreira de Darlene Glória para demarcar os estágios dessa jornada de transformação. O contraste entre a fama secular, com seu brilho e suas armadilhas, e a paz espiritual encontrada na fé é outro veio temático provável. Janires poderia ter explorado o "juízo da fama" – a reavaliação crítica do estrelato secular como fonte de "vazio" e "solidão", em oposição à "plenitude" da vida religiosa – um sentimento comum nos testemunhos de artistas convertidos.7 Obras específicas da filmografia de Darlene poderiam simbolizar o auge dessa fama secular, agora ressignificada.

É plausível que Janires, se conhecesse a fundo a filmografia da atriz, pudesse ter tecido alusões sutis a temas ou personagens de seus filmes, reinterpretando-os sob uma ótica cristã. Por exemplo, a "Mulher da Orgia" de Terra em Transe 4 poderia ser evocada como um símbolo do passado deixado para trás. Além disso, os testemunhos públicos de Darlene Glória, materializados em seus livros e no LP 7, que já articulavam sua narrativa de transformação, podem ter servido de inspiração direta para Janires. A canção "Helena" seria, nesse caso, uma reinterpretação artística desse testemunho já existente, traduzido para a linguagem do rock cristão.

Assim, a "citação de obras" na música "Helena", caso exista de forma explícita, provavelmente transcenderia a simples menção de títulos. Dada a profundidade da transformação de Darlene Glória e o estilo analítico de Janires, as referências seriam, mais provavelmente, simbólicas, utilizadas para construir uma narrativa de queda e redenção, ou para ilustrar a antítese entre o passado secular e o presente de fé. Janires não estaria interessado em uma mera lista de filmes, mas em usar essas "obras" como significantes de etapas da vida, de estados de espírito, ou de facetas da persona pública de Darlene Glória que foram radicalmente transformadas pela conversão. A música "Helena" pode ser entendida, nesse contexto, como um exemplo de como a cultura evangélica brasileira nos anos 1980 se apropriava e ressignificava elementos da cultura secular dominante. A história de uma atriz famosa "resgatada" do "mundo" era, e continua sendo, uma narrativa poderosa. Ao invés de simplesmente rejeitar o passado artístico de Darlene, Janires poderia tê-lo utilizado como um pano de fundo sombrio que faz a luz da conversão brilhar com ainda mais intensidade.

A tabela a seguir organiza possíveis conexões temáticas entre a música "Helena" e a trajetória de Darlene Glória, ilustrando como elementos de sua biografia poderiam ser refletidos na canção.

Tabela 2: Possíveis Conexões Temáticas entre a Música "Helena" de Janires e a Trajetória de Darlene Glória (Helena Brandão)

Tema Potencial na Música "Helena"

Aspecto da Vida/Carreira de Darlene Glória

Obras Relevantes (Exemplos)

Fontes de Suporte para Conexão

A "Nudez" e suas Consequências

Exposição pública, papéis controversos, a ideia de um "castigo" moral ou existencial precedente à conversão.

Toda Nudez Será Castigada, papéis em filmes da pornochanchada.

4

A Ilusão da Fama Secular

O vazio e a solidão experienciados no auge da fama, a crítica ao "mundo artístico" após a conversão.

Carreira cinematográfica e televisiva nos anos 60/70 em geral.

7

A Jornada de Transformação (Darlene para Helena)

A ruptura com o passado, a adoção de uma nova identidade e propósito de vida através da fé, a mudança de nome para Helena Brandão.

A própria conversão em 1974, adoção do nome "Pastora Helena Brandão".

3

O Testemunho da Redenção

A narrativa pública da conversão como um ato de libertação e encontro com a verdade espiritual.

Livros Minha vida com os espíritos e Uma nova glória; LP O testemunho.

1 (para o estilo narrativo de Janires)

Esta exploração temática, embora condicionada pela ausência da letra, demonstra a riqueza de material que a vida de Darlene Glória oferecia para uma homenagem musical com a assinatura de Janires. A análise definitiva das citações, contudo, permanece dependente do acesso ao texto da canção.


Não Foi Só Ela: O Cenário das Celebridades Convertidas que Moldou a Época (Nosso Contexto)

A análise da canção "Helena", de Janires, como um tributo a Darlene Glória/Helena Brandão, requer uma imersão tanto nas características estilísticas do compositor quanto no efervescente contexto cultural e religioso em que a música foi concebida. É fundamental, de início, esclarecer uma limitação importante: os materiais de pesquisa disponibilizados, embora confirmem a natureza da homenagem 1, não contêm a letra completa da canção "Helena". Documentos como os do Cifra Club 11 indicam que a letra é publicamente acessível, mas sua ausência nos dados fornecidos impede uma análise textual direta e a identificação de citações específicas a obras da homenageada. Desta forma, a presente análise se concentrará em inferências baseadas no estilo lírico conhecido de Janires e no propósito da homenagem.

O estilo lírico de Janires Magalhães Manso era notadamente inovador para o cenário da música cristã de sua época. Uma análise de sua canção "Casinha", por exemplo, revela uma abordagem narrativa que utiliza múltiplas perspectivas para descortinar verdades mais profundas e, por vezes, sombrias, ocultas sob aparências superficiais.13 Em "Casinha", Janires descreve uma cidade do interior sob dois olhares distintos: um inicial, que foca em aspectos idílicos, e um subsequente, que revela as mazelas sociais e dramas pessoais dos habitantes.13 Essa habilidade em apresentar uma cena ou personagem sob diferentes ângulos, expondo tanto a superfície quanto as realidades subjacentes, sugere que um tratamento similar pode ter sido empregado na canção "Helena" para retratar a complexa trajetória de Darlene Glória. É improvável que a homenagem se limitasse a uma hagiografia simplista; ao contrário, poderia reconhecer as nuances e contradições da vida da atriz para, assim, ressaltar a magnitude de sua transformação espiritual.

Janires também se destacou por incorporar ritmos populares brasileiros e uma linguagem informal em suas composições, distanciando-se dos hinos tradicionais e, por vezes, adotando um tom que poderia ser considerado "provocante".1 Essa abordagem conferia à sua música uma autenticidade e uma capacidade de diálogo com as inquietações de sua geração.

O contexto da música gospel brasileira nos anos 1980, período de atividade intensa de Janires, era de efervescência e expansão. Juntamente com o Rebanhão, ele foi um dos pioneiros do chamado "rock gospel" no Brasil, surgindo em um momento de significativo crescimento do evangelicalismo e de uma busca por novas formas de expressão musical religiosa que comunicassem a fé de maneira relevante para a juventude.1 A música, nesse contexto, transcendia o mero entretenimento, funcionando como uma poderosa ferramenta de evangelização, testemunho e construção de identidade para a comunidade evangélica.14 A canção "Helena", portanto, pode ser vista como um exemplo da maturidade artística que emergia nesse cenário, capaz de abordar figuras complexas como Darlene Glória com nuances líricas e profundidade temática, mesmo que a análise detalhada dessas nuances dependa do acesso direto à sua letra.




A homenagem de Janires a Darlene Glória na canção "Helena" não pode ser plenamente compreendida como um evento isolado. Ela se insere e reflete um contexto cultural, social e religioso mais amplo do Brasil, especialmente a partir dos anos 1970 e 1980, marcado pela crescente visibilidade do evangelicalismo e por suas complexas interações com o mundo artístico secular. A conversão de celebridades ao evangelicalismo tornou-se um fenômeno notável, e Darlene Glória figura como um dos casos pioneiros e mais emblemáticos dessa tendência.7 Outras figuras públicas, como as ex-coelhinhas da Playboy Luiza Tomé e Cristina Mortágua, as atrizes Nicole Puzzi e Simone Carvalho, e a ex-chacrete Gretchen, também vivenciaram processos de conversão semelhantes, indicando um padrão cultural onde personalidades da mídia, muitas vezes com passados considerados "mundanos" ou "transgressores", encontravam uma nova identidade e refúgio no neopentecostalismo.5

Essas conversões tinham um impacto considerável, fornecendo ao movimento evangélico narrativas de testemunho poderosas e com grande apelo popular. A história de uma figura conhecida, "resgatada" do "mundo" do entretenimento – frequentemente associado a excessos e a uma moralidade questionável sob a ótica religiosa – para uma vida de fé, servia como um potente instrumento de validação e proselitismo. A música gospel, e em particular o rock cristão que Janires ajudou a consolidar, desempenhava um papel crucial nesse cenário. Era um espaço de expressão da fé, mas também de diálogo, e por vezes confronto, com a cultura secular.1 Janires, com sua linguagem musical inovadora, estava na vanguarda dessa expressão, tornando a mensagem cristã acessível e relevante para um público jovem.

Darlene Glória, como Pastora Helena Brandão, não se retirou da esfera pública após sua conversão. Pelo contrário, tornou-se uma defensora ativa da fé evangélica, participando, por exemplo, de um debate televisionado no programa de Silvia Poppovic nos anos 1990, ao lado de figuras proeminentes do meio evangélico como Edir Macedo e Silas Malafaia, onde defendeu os evangélicos contra acusações.10 Essa participação demonstra sua inserção e relevância no cenário religioso público, reforçando a ideia de que ela não era apenas uma convertida anônima, mas uma voz ativa e reconhecida.

A trajetória de Darlene Glória – marcada pela fama internacional, por papéis que desafiavam convenções morais (associados à pornochanchada e à "nudez"), por uma crise pessoal que, segundo algumas fontes, incluiu uma tentativa de suicídio 5, e culminando em uma redenção pública e fervorosa – alinha-se de maneira impressionante com narrativas cristãs clássicas de queda e salvação. Isso a tornava um símbolo particularmente poderoso. A canção "Helena" de Janires pode ser interpretada, nesse sentido, como um ato de "canonização cultural" dentro do meio gospel. Ao dedicar uma canção a ela, Janires, uma figura respeitada no rock cristão, estava validando e celebrando sua história perante a comunidade. O fato de ele também ter composto uma música em homenagem a Alex Ribeiro, outro evangélico proeminente (um piloto de Fórmula 1 e fundador dos Atletas de Cristo) 1, sugere um padrão de reconhecimento e celebração de figuras que representavam a fé no espaço público. A homenagem de Janires, portanto, transcendia o gesto individual, inscrevendo-se em um movimento cultural mais amplo de apropriação e ressignificação de narrativas e personalidades pela crescente esfera de influência evangélica no Brasil.

Nosso Legado dessa Homenagem: O Que "Helena" nos Ensina Hoje


Esperamos que esta análise aprofundada tenha sido interessante para você. A história por trás de "Helena" nos mostra como a arte e a vida se entrelaçam de maneiras surpreendentes.

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Referências citadas

  1. periodicos.est.edu.br, acessado em maio 11, 2025, http://periodicos.est.edu.br/index.php/tear/article/download/565/1104

  2. PRÁTICAS MUSICAIS COTIDIANAS NA CULTURA GOSPEL: UM ESTUDO DE CASO NO MINISTÉRIO DE LOUVOR SOMOS IGREJA - UFSM, acessado em maio 11, 2025, https://www.ufsm.br/unidades-universitarias/ce/wp-content/uploads/sites/373/2019/04/dissertacao-andre-reck.pdf

  3. Biografias Archive - Página 19 de 22 - MBRTV - Museu Brasileiro de ..., acessado em maio 11, 2025, https://www.museudatv.com.br/biografia/page/19/

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  7. O juízo da fama: moralidades e emoções nas ... - SciELO Brasil, acessado em maio 11, 2025, https://www.scielo.br/j/rs/a/5xK8FkkBcq9SYvhmp5Q6z3t/?format=html&lang=pt

  8. Depoimento Darlene Glória - YouTube, acessado em maio 11, 2025, https://www.youtube.com/watch?v=PQSVRBpYOlc

  9. (PDF) O juízo da fama: moralidades e emoções nas narrativas testemunhais de conversão no mundo artístico evangélico - ResearchGate, acessado em maio 11, 2025, https://www.researchgate.net/publication/352347933_O_juizo_da_fama_moralidades_e_emocoes_nas_narrativas_testemunhais_de_conversao_no_mundo_artistico_evangelico

  10. Dissertação Clayton Guerreiro - Versão Final | PDF | Pentecostalismo | Igreja cristã - Scribd, acessado em maio 11, 2025, https://pt.scribd.com/document/669361303/Dissertacao-Clayton-Guerreiro-Versao-Final

  11. Helena - Janires - (letra da música) - Cifra Club, acessado em maio 11, 2025, https://www.cifraclub.com.br/janires/1943725/letra/

  12. Helena - Janires - (letra de la canción) - Cifra Club, acessado em maio 11, 2025, https://www.cifraclub.com/janires/1943725/letra/

  13. Casinha (canção) – Wikipédia, a enciclopédia livre, acessado em maio 11, 2025, https://pt.wikipedia.org/wiki/Casinha_(can%C3%A7%C3%A3o)

  14. “VINHO NOVO EM ODRES VELHOS”. Um olhar comunicacional sobre a explosão gospel no cenário religioso evangélico no Brasil - Biblioteca Digital de Teses e Dissertações da USP, acessado em maio 11, 2025, https://www.teses.usp.br/teses/disponiveis/27/27134/tde-29062007-153429/publico/tese_magali_cunha_2004.pdf

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